quinta-feira, 27 de agosto de 2009




"Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro
para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes
que se tem na vida."

Clarice Lispector

terça-feira, 25 de agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

domingo, 23 de agosto de 2009



"Os ventos que às vezes tiram
algo que amamos, são os
mesmos que trazem algo que
aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar
pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi
dado.
Pois tudo aquilo que é
realmente nosso, nunca se vai
para sempre..."

Bob Marley

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009



"Eu sou do tamanho daquilo que SINTO,
que VEJO
e que FAÇO,
não do tamanho
que os outros me enxergam.

Dificil não é lutar por aquilo que se quer,
e sim desistir daquilo que se ama."

quarta-feira, 5 de agosto de 2009



O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 4 de agosto de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009



Pretinho

Toda noite é a mesma coisa!
Com lua cheia ou com chuva, lá vai Pretinho perambulando pelas ruas desertas...
Ele é da noite!
Gosta das madrugadas, tanto faz se escuras ou estreladas.
De repente aparece Pretinho esbanjando charme e glamour não sei pra quem! Talvez para algumas gatas pingadas que também adoram andar no escuro.

Eu também gosto da noite, da noite eu sou e assim como Pretinho trocaria o dia pela noite e também, assim como ele, gostaria de passar o tempo inteiro me espreguiçando numa poltrona gostosa e macia.

A garoa começa e eu, mais uma vez, gente da noite, olho pela janela do meu primeiro andar e Pretinho aparece, atravessando a rua, nariz empinado, pingos de chuva molhando-lhe o corpo gordo e peludo.

Pretinho é o gato da Dona Arlete, uma senhora de meia idade que mora ao lado da minha casa.

Ela me confessou uma vez que Pretinho é o seu xodó e que ele tem uma poltrona especial na sala de estar.

“O danado só come bife mal passado!”

Agora descobri de onde vem tal rompante!

Pretinho só faz o que quer!

Dona Arlete acostumou-o muito mal, fazendo-lhe suas vontades e deixando-o livre para bater pernas pelas ruas do bairro.
Mas como se faz para prender um gato? Amarrando-lhe ao pé da mesa? Claro que não! Esses bichos nasceram para a liberdade e com Pretinho não seria diferente.

Desconfio que com o amor acontece o mesmo.
Às vezes queremos prendê-lo, sabendo que o seu desejo mais ardente é a liberdade. Pura liberdade e nada mais.

É assim que funciona as coisas, se deixarmos livre ele vem correndo, se prendermos ele escapa da gente, igualzinho a areia da praia que desliza entre os dedos quando a apertamos demais.

E o Pretinho? Esse gato danado de olhos de gude não deixa ninguém chegar perto, a não ser a sua protetora, Dona Arlete.
Ela é uma viúva de 62 anos, três filhos grandes e já de vidas feitas, moram fora. Vive com o neto, o João, mas Pretinho é realmente o chamego da casa!

Um dia ela me disse que tem medo de suas saídas, por ser um persa todo preto, sem uma única manchinha pra “manchar” o negrume do seu pêlo fofo e aveludado, teme que ele vá e não volte mais, seja por seqüestro ou por um acidente qualquer.

- Essa rua que a gente mora é muito movimentada, minha filha. Passa carro toda hora!

Dizia, toda preocupada.

Certa vez presenciei um acidente quase que fatal do pobre e formoso felino. Acredito que nessa hora Pretinho perdeu uma das suas sete vidas. Mas graças a Deus saiu são e salvo!

O negócio foi o seguinte: Final de expediente de uma sexta-feira, avenida movimentada e Pretinho do nada aparece na frente de uma moto. O piloto freou bem em cima do bichano que escapou por pouco. Mas nessa escapadela caiu embaixo de um fusca azulado que vinha na toda em direção contrária. Pretinho levou um trompaço tão grande que por sorte não foi esmagado pelos rodões do fusca 74.

Sorte essa que não permitiu que ele perdesse nem uma das suas vibrissas, embora nessa hora esses pêlos sensoriais não o alertou para o eventual perigo. Até parece que servem somente para enfeitar a sua cara de gato!

Confesso, gritei naquela hora! Caso acontecesse alguma coisa com o bichano eu iria sentir muito. Sou chegada a bichos, cachorros principalmente, gatos nem tanto, soltam pêlos e mijam em qualquer lugar. Mas meu apego com Pretinho vem de longe, desde que mudei pra essa rua. Olhos claros me encantam!

Eu, ele e a noite, madrugadas a fio, acordados.
Eu, trabalhando um pouco, fazendo pesquisas, arrumando papéis e Pretinho desfilando todo faceiro pela rua silenciosa em busca de novas aventuras. Acho que somos mesmo cúmplices da noite! Ela nos entende e nos embala com seus braços aconchegantes. Braços de mãe que cuida do filho com todo cuidado e carinho.

E é bem assim que também agimos quando apaixonados estamos. Queremos colocar no colo, ninar e acarinhar o amor verdadeiro.
Eu, ele, ela. Um triângulo amoroso com final feliz!

Luciane Santos.

II

Eu continuo criança
E já não sei se é bom ou ruim correr descalça na chuva
Ficar molhada da cabeça aos pés
Sorrir feito boba
E chorar quando te tiram algo...

E pensar que ele continua por aí fazendo estripulias feito um menino travesso,
varando noites e mais noites a fio,
com olhar de farol de carro reluzente.

E como seres da noite
Vivemos numa busca incansável
pelo silêncio, pela solidão, por mais aventuras.
Mas um dia desses encontrei Pretinho em plena luz do dia,
seus olhos verdes fitaram no meu olhar de jabuticaba.

Ele saía de detrás de um carro, acredito que nessa hora já havia pulado o muro da vizinha que dá direto pra rua.
O bichano tava todo desconfiado, com um pobre passarinho na boca.
Caminhando lentamente, andando abaixadinho
e achando que ninguém o veria.
E olha quem ele encontra de cara?
Eu, logo eu, sua sombra perfeita...
Vigio pretinho com olhos de lince, onde quer que ele vá, sempre o encontro.
Nem sei se ele sabe disso
Talvez sinta a minha presença,
Perceba que alguém lhe segue de longe,
Olhar atento, filmando tudo,
Cada passo, cada movimento...
Acho que a nossa história de amor continua
Talvez até um amor platônico, da minha parte, claro
Eu, ele, eu, nele...

Mas o amor é isso
Mesmo dizendo que não, queremos possuir,
disfarçadamente possuir,
aconchegar e cuidar.
Mas Pretinho, amante da liberdade prendeu um passarinho
entre suas garras afiadas.
O que é isso Pretinho?

O pobre canário ainda com vida, tentava escapulir da boca peluda de Preto, seus bigodes faziam cócegas e o cantarolante se debatia todo.
Quanto mais tentava fugir, mais ele o apertava.

E não é que esse tal de amor pega a gente também de surpresa?
E do nada acabamos abraçados, trancafiados, apertados por ele.
E como um dia disse Drummond:
O amor é bicho instruído, o amor pulou o muro, o amor subiu na árvore em tempo de se estrepar...Eta bicho danado esse tal de amor!


Luciane Santos