segunda-feira, 3 de agosto de 2009

II

Eu continuo criança
E já não sei se é bom ou ruim correr descalça na chuva
Ficar molhada da cabeça aos pés
Sorrir feito boba
E chorar quando te tiram algo...

E pensar que ele continua por aí fazendo estripulias feito um menino travesso,
varando noites e mais noites a fio,
com olhar de farol de carro reluzente.

E como seres da noite
Vivemos numa busca incansável
pelo silêncio, pela solidão, por mais aventuras.
Mas um dia desses encontrei Pretinho em plena luz do dia,
seus olhos verdes fitaram no meu olhar de jabuticaba.

Ele saía de detrás de um carro, acredito que nessa hora já havia pulado o muro da vizinha que dá direto pra rua.
O bichano tava todo desconfiado, com um pobre passarinho na boca.
Caminhando lentamente, andando abaixadinho
e achando que ninguém o veria.
E olha quem ele encontra de cara?
Eu, logo eu, sua sombra perfeita...
Vigio pretinho com olhos de lince, onde quer que ele vá, sempre o encontro.
Nem sei se ele sabe disso
Talvez sinta a minha presença,
Perceba que alguém lhe segue de longe,
Olhar atento, filmando tudo,
Cada passo, cada movimento...
Acho que a nossa história de amor continua
Talvez até um amor platônico, da minha parte, claro
Eu, ele, eu, nele...

Mas o amor é isso
Mesmo dizendo que não, queremos possuir,
disfarçadamente possuir,
aconchegar e cuidar.
Mas Pretinho, amante da liberdade prendeu um passarinho
entre suas garras afiadas.
O que é isso Pretinho?

O pobre canário ainda com vida, tentava escapulir da boca peluda de Preto, seus bigodes faziam cócegas e o cantarolante se debatia todo.
Quanto mais tentava fugir, mais ele o apertava.

E não é que esse tal de amor pega a gente também de surpresa?
E do nada acabamos abraçados, trancafiados, apertados por ele.
E como um dia disse Drummond:
O amor é bicho instruído, o amor pulou o muro, o amor subiu na árvore em tempo de se estrepar...Eta bicho danado esse tal de amor!


Luciane Santos

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